Porto seguro, ponto de fuga ou ponto de partida?

Quando somos jovens sempre achamos que podemos contar com os outros. E, às vezes, podemos. Mas, na maioria das vezes não. Me dei conta de que seria só eu contra o mundo no momento que senti meu filho no ventre. Éramos só eu e ele. Hoje somos eu, Ákilah e Flora. Até quando? Não sei. Um dia serei só eu, novamente. Eu e minha solidão, que jamais me abandona. 

Mulheres são, quase sempre denominadas como porto seguro da relação, cujo outro pode voltar e encontrar abrigo. Mulheres nunca são os navios, são sempre o farol, estático. Mulheres são o ponto de fuga, e são de onde os outros zarpam para suas vidas agitadas e jamais voltam. São trampolins que alçam os outros para o alto. 

Será que um dia seria o meu porto seguro? Será possível ser meu ponto de fuga e de partida? Será que tudo é loucura da minha cabeça e estou perdendo a sanidade ou é só o pessimismo pré-menstrual? 

Me sinto cheia de tralhas que não são minhas, de miasmas que ficaram das relações e à medida que me solto e me liberto, liberto os fantasmas presos em relicários bonitos. Para ser leve é necessário soltar, mas ser leve não é esquecer, ser leve depende de lembrar

E, enquanto meus dedos finos se agarram às amarras que eu mesma me impus, eu choro com medo de ser apenas ponto de partida e não de chegada, morada. Meu corpo, minha casa. Casa que abrigou vidas e hoje se encontra desocupado. Não desejo mais visitantes, mas tem um que me chega tão gostoso e carinhoso, que o dengo me ganha. 

Mas, e o medo de ser deixada, onde ele fica? No roll de entrada, de frente para a porta, como alerta, apesar de, às vezes, ser completamente ignorado, tanto por mim, quanto pelos outros. E as rachaduras que eu tentei cobrir, e seguem aparecendo por baixo da massa sólida? Sou mesmo assim uma alma nobre e cheia de vida, que merece o amor e tudo que vem dele ou apenas o resto? E o que eu faço com a minha velha mania de me sabotar, de mandar embora quem deseja ficar e pedir que fiquem os que desejam apenas passar? 

E, se eu não deixar saudade ao ponto de receber uma batina repentina na porta? E se eu for só mais uma página na tua história? E, nesses “e ses” eu me perder e não souber voltar?


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Não me calarei

Cresci ouvindo que “o calado vence”, aprendi a evitar conflitos enquanto o que eu mais desejava era esmurrar a cara de pessoas. Aprendi que era errado e feio ser agressiva, assertiva, incisiva e que certas conversas seriam desnecessárias, já que o outro não iria entender. 

Cresci calando os meus sentimentos, perdendo a voz. Cresci com medo da rejeição ao ponto de não conseguir verbalizar tais medos para quem eu amava. Quem me causava essas certas inseguranças. Penso que cresci para agradar aos outros e não à mim

Hoje, com quase trinta anos, finalmente percebi o quão importante é validar tudo que eu sinto, penso e preciso expor, sem o medo de ser mal vista, de ser chamada de mal educada, de desnecessária, de agressiva etc. Hoje consigo ver os estragos que uma sociedade machista faz, mesmo que sutilmente, às mulheres. Quando as próprias mulheres fomentam esse estereótipo de “classe” e “elegância”, enquanto o outro está nem aí para o que sentimos

Quando somos traídos nos sentimos expostos, nos sentimos vulneráveis, pequenos e inúmeros outros atributos. Sair desse lugar é como tentar escapar de um lodo, de uma areia movediça. Difícil, mas não impossível. E, me sinto nesse processo de ascensão, que é quase divino e muito importante para a minha auto imagem. 

Posso dizer, com toda certeza, que me fiz pequena para caber em um molde. Tirei minha pele de foca, como diria Clarissa Pinkola Estés, e deixei que um homem comum me aprisionasse. Me sinto, resgatando minha pele e voltando ao meu lar, meu mar e a minha imensidão

Retornando à mulher selvagem que sempre habitou em mim, mas que foi podada, encurralada e domesticada. Não aceitarei mais cabrestos, não aceitarei ser marcada à ferro. Não me sujeitarei permanecer onde sequer o mínimo é feito. Onde minha voz não é ouvida e minhas palavras não são lidas. Onde eu não posso ser quem sou, onde minha alma não encontra acalento. Onde eu precise me calar para ser aceita

Prefiro, de qualquer forma, ser uma párea do que bem vista. Prefiro ser chamada de rude ou agressiva, do que de boa moça. Recato nunca foi um adjetivo que coubesse em mim, pelo contrário, eu sempre fui chamada de rebelde. Sempre honrei minha linhagem de mulheres fortes, mas como elas, eu calei. E, para mim, nesse momento, a maior das honrarias é não repetir o erro delas, é fazer valer cada célula do meu corpo que grita por liberdade. É dar voz ao BASTA que elas mesmas não puderam gritar.

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Nova eu e uns blá blá blá's

Muitas coisas tem acontecido nos últimos meses, mas eu vou dar uma pincelada geral em tudo. Estamos morando na casa, na Glória, mesmo que ainda em reforma, e isso tem causado vários gatilhos em mim. É cansativo, sempre suja, não tem lugar para as coisas (já que nossa mudança ainda está 50% em Viamão, na minha mãe). Várias coisas improvisadas, enquanto corremos contra o clima frio do inverno para dar conta de terminar até agosto. 

Estou produzindo alguns eventos bem bacanas em Porto Alegre, gerenciado alguns instagrams e sido mãe em tempo integral. Além da participação de feiras da economia solidária de Viamão e Porto Alegre. Sim, a mãe tá on e é workaholic.  

Tenho passado por alguns (grandes) perrengues no meu relacionamento. Mas, a vida tem sido generosa comigo e me presenteou com pessoas muito especiais para me apoiar e acolher. 

E, apesar de tudo, tenho me sentido bem em como as coisas tem acontecido. Na maior parte das vezes. As coisas estão se encaminhando para o melhor. Me sinto em paz

Tenho me redescoberto a cada dia. Como na história do Barba Azul, abri a portinha e vi tudo que guardei lá. A chavezinha não para de sangrar. E todos que tem olhos podem ver. Mas, ao contrário da esposa do Barba Azul, eu não temo mais ele. Ele não pode me ferir, afinal, ele sou eu mesma me chicoteando durante todos esses anos. 

Lembro de uma leitura de cartas que eu fiz em janeiro, e recebi um aviso para eu cuidar com traições, que poderiam ser as minhas próprias. Hoje eu vejo elas e já não permito mais que continue assim. 


Fiz uma tatuagem, que simboliza minha libertação, minha subida à luz depois de anos nadando em águas profundas. Também, sobre minhas emoções, a beleza e a complexidade delas. 

Me apaixonei por mim, novamente. Me apaixonei por pessoas incríveis. Me senti amada, me sinto ainda, por todos que estão participando ativamente da minha vida. 

Quebrei correntes e padrões que me feriam. Floresci

A JORNADA DAS BRUXAS
Da autora @karinaheid
Quem é fã de Campbell, arquétipos (Jung), mitos e a mística feminina (quem aí leu Mulheres que correm com os lobos?) vai amar esse livro!
Leitura gostosa, fluída e com viagens, natureza, animais selvagens e muita descoberta de si.
Nina Wolf, uma jovem bruxa, vive se escondendo (e os seus poderes) dos humanos. Sua família carrega o fardo de ser rebelde por uma ancestral ter desobedecido as ordens dEla, a Deusa.
Prestes a completar 18 anos, Nina recebe uma carta extraviada, de 30 anos, para se juntar a uma velha bruxa Romena, centenária, isolada nas montanhas. Um rito de passagem. Um verão para aprender. Uma peregrinação cheia de descobertas.
Porém, Nina não quer, de modo algum, ir para Romênia. E tudo fica mais difícil quando acontecimentos estranhos relacionados aos poderes da família e a abundância de suas terras chegam aos olhos de uma agência do governo.
Além disso, um novo aluno, Alex, aparece e mexe com a cabeça de Nina. Ele também guarda um segredo. Ele também é um mistério.
Para onde os caminhos da Deusa levarão Nina? Para a Romênia? Para ser cobaia do governo? Ou para os braços de Alex?
Não é só mais um romance adolescente. É um livro sobre morte e renascimento. Sobre ritos de passagem, sobre descobertas. Sobre olhar para si e suas necessidades. Sobre quebrar padrões familiares. Sobre desvendar historias mal contadas, colhendo ossos, como 'La Que Sabe'.
Parasheva, a velha bruxa centenária, me lembra muito Baba Yaga. E as megeras selvagens dos contos de Clarissa Pinkola Estes. E, particularmente, eu adoro estórias com velhas/ bruxas mal humoradas e cheias de sabedoria. Com seus arquétipos de mãe boa-má. Ela é boa-má porque ensina, com amor, dor e suor, a crescermos.
Nos ensina que o mundo não é amigável e precisamos saber nos cuidar. Criando nossa nova mãe do self.

(Mas isso é uma longa história)

Super indico a leitura, pra curtir essa estória que eu fiquei apaixonada e ainda estou de ressaca literária!

Esses foram os livros que eu consegui ler até agora. Tenho outros começados, mas por enquanto é isso mesmo!
Essa é a minha Meta de leitura de 2023

E, se quiserem saber o que estou produzindo, juntamente com uma equipe M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A, segue a @feiravinilpoa no insta! 

Obrigada por ler até aqui, um beijo e um cheiro!

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'A Filha Perdida' e os desafios da maternidade


É incrível como nossa visão e gostos mudam ao passar dos anos. Li A filha perdida em agosto de 2017, por causa de um evento da UFRGS, o Leia mulheres POA, e acredito fortemente, que se não fosse por isso não seria meu objeto de leitura na época. Quando li, achei a personagem principal meio desequilibrada emocionalmente, talvez até uma feminista 'tardia', que abdica da maternidade para viver sua vida. 

O livro não me marcou profundamente, mas marcou. Comprei e ganhei mais alguns livros da autora (que acabei não finalizando por conta das coisas da vida), mas sua escrita sim, profunda e sentimental, diria até, intensa. A narrativa em si se perdeu na minha mente, só lembrava dos conflitos internos de Leda, a protagonista, mas não de todo o enrredo. 


Ao assistir o filme na Netflix, em um momento de crise materna, diga-se de passagem, foi chocante como a tradução das palavras em imagens ficaram perfeitas. Apesar de não lembrar muito do livro, o filme me traduziu diversos sentimentos de exaustão, de angústia, de insatisfação que a maternidade traz. E não importa o quão bem resolvida tu esteja, a maternidade irá remexer fundo em diversos nichos da tua vida. 

Hoje, em meio ao surto de exaustão física e emocional que pus a endagar sobre algumas coisas, como: será que eu não amo mais meu companheiro? será que eu seria muito merda se eu sumisse, assim, por um tempo, sozinha? às vezes eu queria dar uma morridinha, só um pouquinho, pra descansar... será que se eu deixar ela chorando assim, ela fica "bem" pra eu tomar um banho? eu não sei mais o que eu faço pra esse guri parar, será que eu estou errando na educação dele? 

Entre outras...

É assustador como a mente cansada e exaurida busca se livrar da tormenta, e quando o cansaço vai embora nos damos conta do que se passou, e como absurdo é tudo que pensamos. Com isso, sinto uma imensa empatia em relação a Leda, apesar achar bastante drástico tudo que ela fez na vida dela. Infelizmente, são escolhas, ela decidiu investir na vida dela e se afastar das filhas. E, claramente alí, ela tem um complexo de 'criança ferida' pelo incidente com a boneca. Talvez, até suas próprias questões com as filhas e o arrependimento de não ter as criado.

Também consegui enxergar alguns processos pessoais meus através de Nina e sua filha, sua relação com a família e a falta de validação que vinha dos demais. A maternidade é sempre um espaço 'público' em que todos se acham no direito de julgar, manter e se meter. 

Muitos 'enfins' para finalizar esse texto. Deixo aqui minha reflexão, opinião e desabafo. E a pergunta: já leu/assistiu? 

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Meio ano e uns acontecimentos!


Em dezembro eu apresentei o meu Trabalho de Conclusão de Curso em Pedagogia, a monografia foi publicada no site da biblioteca da PUCRS. O tema foi: Crianças pequenas são capazes : autonomia e apego seguro. Clicando no link é possível baixar e ler o trabalho. 

Defendi o trabalho grávida de sete/oito meses da Flora, com o Ákilah no colo, com 'louvor'. Recebi nota máxima, com o convite para publicação de artigo e a tal da publicação na biblioteca. Os corres não pararam por aí, tive que fazer ajustes para a publicação acontecer de fato, autorizar, escanear etc. Em menos de uma semana, quando achei que conseguiria finalmente descansar! 

Flora nasceu em 10/02/22, num parto domiciliar amoroso e familiar. Mostrando para que veio ao mundo. De forma aterrada e firme. 

Aos poucos voltei a ler, e só agora, de fato, escrever. Sentar no computador e colocar as ideias em ordem! Mas, ainda é bastante desafiador em vários aspéctos, como:
  1. Conseguir me colocar no foco do processo, aceitar que sou pessoa e tenho direito a fazer essa atividade que me preenche imensamente;
  2. Sentar, de fato, e escrever, sem interrupções a cada 5min;
  3. Fazer tudo isso sem culpa por não estar dando atenção aos meus filhos pequenos;
  4. Confiar que sou capaz de escrever alguma coisa que faça sentido aos outros e não somente a mim e a minha bolha.
Lidar com as inseguranças é um trabalho árduo na vida de uma mãe. Não conheci uma só mulher que não se sentisse insegura em voltar, de alguma forma, a fazer o que ela sempre fez, após o parto.


Ákilah tem 3 anos e dois meses e Flora tem quase sete meses. Duas fofuras, que dão muuuuito trabalho, muitos cabelos brancos e provocam noites mal dormidas. Ákilah vem de uma longa temporada de gripes com febre, que nos deixaram bastante exaustos, principalmente por ele já ir a escola e, nesses momentos de doença, ficar em casa e bagunçar a rotina que eu já havia estabelecido. 

Minha meta de leitura está enorme no skoob, são 36 livros e essa lista só cresce!


Minha lista de livros lidos é essa:
Com 3,166 páginas lidas. Isso foi mais do que eu li nos últimos anos, fora semestre passado com o TCC. Vou deixar o link da minha meta aqui: meta de leitura de 2022.
Tenho lido muito no Kindle, que tem me ajudado muito a amamentar e ler ao mesmo tempo, embora eu ainda cultive a leitura em papel. E, como vocês podem ver, eu sigo com a minha mania de ler um pouco de cada livro e ir alternando conforme minha vontade e necessidade do momento!

Bueno, isso é só um pouco do que aconteceu nos ultimos meses, nem se compara com a muvuca que é estar na casa dos pais, ter dois filhos, tcc, pandemia e afins. 
Aos poucos, pretendo voltar aqui, contar coisas novas, trazer resenhas e contos (estou cheia de ideias). 

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Onze anos de blog (um tempo escrevendo)!


Fazem onze anos que eu escrevo aqui (quase o meme da Rose 'fazem 84 anos'), entre idas e vindas, entre a mesmice e o coração adolescente partido, entre o sucesso acadêmico e a vida corrida de mãe. Estou há semanas com vontade de sentar em frente ao computador e me entregar por horas a escrita de qualquer coisa que faça o mínimo sentido. Talvez, até chorar, em luto, pela morte da escritora em mim. A última escrita foi o TCC e depois disso, nada além de meia dúzia de textos no instagram e páginas no diário, amassado, que eu resgatei recentemente. Sinto, imensamente, saudade do ócio, do "fazer nada" e, ainda assim, fazer algo. Ler por horas, escrever durante a madrugada e não me preocupar em lavar roupas, com a janta ou se a casa está suja. Agora mesmo, escrevo com a Flora agarrada ao meu seio, mamando e dormindo.

Sinto falta da menina que criou esse blog e que passava horas em devaneios, escrevendo, pintando e sonhando. Não sei se ela teria orgulho de mim, já que ela desejava fazer muito mais antes dos 30. Acho, que o que eu faço hoje, que também é bastante importante, não seria a prioriade dela, nem da forma que ela faria. Mas, já está feito, e apesar de tudo, sou feliz por ser quem sou e fazer o que faço. 

É contraditório, não? Sentir falta de coisas e, mesmo assim, não desejar mudar nada?! Eu também acho. São saudades que vem com o amadurecimento e, hoje sei, que me identifico muito com o que me tornei e essa é minha melhor versão, apesar da frustração e da saudade de não ter pequenas pessoas que dependam de mim. Ser mãe é cansativo, é um investimento sem retorno, é um tempo que não volto. E, por não voltar é que é tão precioso. 

Eu cresci e ainda volto aqui para escrever, mesmo que ninguém leia, mesmo que essa plataforma esteja fora de uso ou obsoleta. Busquei lugares e passei semanas modificando a cara do blog somente para conseguir me sentir confortável em escrever novamente. Talvez eu siga escrevendo em outros lugares, tenho pesquisado e me encantei com uma 'rede social de escritores e leitores', a Scriv. Me procurem lá, ainda alimento o desejo de seguir escrevendo, e, quem sabe, publicar algo novemente. 

Alimentar o sonho da adolescente que vive em mim. 

Por hoje é só, grata por quem leu. 

Ps: adoro comentários.



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