FERREIRO, Emilia. Ler e escrever num mundo em transformação. In:_. O passado e presente dos verbos ler e escrever. Trad. Claudia Berline. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2005, p. 11-39.
Esta
é uma leitura importante para quem busca conhecer melhor a língua escrita, na
busca histórica dos leitores e da magia da infância e suas peripécias aos
desenvolverem a imaginação e o pensamento crítico ao redigirem estórias. A obra
engloba não somente a percepção de teorias, mas fala também sobre
desenvolvimento do processo criativo, das dificuldades e fatores muito além do
imaginável, todas essas características tecidas pela escrita leve e direta da
autora.
O
livro é dividido em três capítulos, “Ler
e escrever num mundo em transformação”, que será desvendado a seguir, “Passado e futuro do verbo ler” e “Diversidade e processo de alfabetização: da
celebração à tomada de consciência”. Este primeiro capítulo abrange as
origens e o desenvolvimento da escrita e da leitura através dos séculos, e como
uma criança desenvolve sua percepção como leitora e tecelã de novas estórias/histórias. O texto rico da autora abrange fatos e dados
sociais importantes, como o desempenho escolar (ou o fracasso da alfabetização),
as ditas “patologias sociais – soma de
pobreza com analfabetismo” (p. 14), ou como os países eram catalogados.
Emilia
começa o capítulo dizendo que “Houve uma
época, vários séculos atrás, em que escrever e ler eram atividades
profissionais e aqueles a elas destinados aprendiam-nas como um ofício” (p.
11), introduzindo o vigor histórico da arte da escrita, e como essas funções,
tão familiarmente unidas nos dias de hoje, eram completamente separadas, porque
os que controlavam o que seria escrito não eram os mesmos que tinham permissão
de escrever, e muitas vezes, estes não praticavam a leitura. “Os que escreviam não eram leitores
autorizados, e os leitores autorizados não eram escribas” (p.12).
Passando
aos problemas de alfabetização a autora é direta ao dizer em muitos trechos que
os problemas se iniciaram quando ler e escrever pararam de ser uma profissão e
passaram a ser uma obrigação. Relembra sobre o iletrismo que colocou a França em alerta em meados de 1980, e os
fatores governamentais, com suas cobranças e pré definições sobre os que “não
alcançam o esperado ou programado”. O interessante deste capítulo (não que os
demais assuntos não sejam) é quando a autora fala de Étienne Dolet que foi
queimado vivo junto de suas obras, abrindo o parêntese sobre os editores e seus
trabalhos “incompletos”.
Emilia
ilustra as páginas finais do capítulo com histórias de duas crianças e suas
respectivas estórias, a primeira, Teresa de 6 anos mostra que contém
conhecimento da estrutura de um texto, começando com “Era uma vez” e terminando
com “e estiveram muito felizes. Fim” (p. 28-31), embora em alguns momentos
tropece nas palavras e enrole-se brevemente. O segundo é Ramón de 7 anos, que
mora numa comunidade rural, percebe-se que sem muito estímulo o menino só
preenche a página com uma narrativa livre sobre o frango. E, por fim, temos o
belíssimo discurso sobre o direito das crianças pela alfabetização, e que não
devemos infantilizar as crianças e sim a valorizarmos como um “sujeito que
pensa” (p. 36).
Ao
lermos esse capítulo podemos perceber a paixão da autora pela arte da escrita,
e o quão importante é o incentivo a leitura que nós adultos devemos dar as
crianças, pois como dito anteriormente, elas são seres pensantes e futuros
cidadãos críticos. Sem esquecermos dos bombardeiros referente as estatísticas
do Banco Mundial e as condições e divisões dos países, seus preconceitos do
governo que pede cada vez mais demandas de indivíduos alfabetizados, sem dar
sequer o mínimo para isso. Ainda com relação a estatísticas, os “empecilhos”
das novas tecnologias entrando em sala de aula, sem termos profissionais
equipados para trabalhar com tais métodos, ou chamar os alunos de volta e
informar sobre a importância das bibliotecas.
Cremos,
ao chegarmos ao final deste breve capítulo que o essencial é aprender por ser
um prazer, o que muitas vezes não nos é ensinado, embora, como dizia Chico
Xavier “você não pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas pode começar
agora e fazer um novo fim”. E se, a professora do Ramón não estivesse pouco
interessada e incentivasse o habito saudável da leitura e escrita, fomentando
dia a dia os alunos, a realidade de uma turma, não seria diferente?! Sim, em
tese seria. Portanto, leitores um pouco mais informados, que agora somos,
podemos encarar daqui para frente à leitura e escrita como uma profissão, como
nos primórdios dos tempos, embora adaptando ao contexto atual, preenchendo-a
com o gosto por praticar desta arte tão singular, que é ser escritor e leitor.
Emilia
Beatriz María Ferreiro Schavi, nasceu na Argentina em 1936. Em 1970 formou-se
em psicologia na Universidade de Buenos Aires, doutorou-se na Universidade de
Genebra, onde trabalhou como pesquisadora e assistente, orientada por Jean
Piaget. Ao retornar a Buenos Aires em 1974, desenvolveu uma série de estudos
com crianças, iniciou então uma pesquisa de Psicogênese da Língua Escrita na
mesma universidade em que se formou em 1970.
Viveu
em exílio na Suíça após o golpe de Estado na Argentina. Em 1977 inicia uma
pesquisa com Margarita Gómez Palacio, sobre as dificuldades de aprendizagem que
as crianças apresentam. Emilia Ferreiro tornou-se uma referência para o ensino
brasileiro, ligada ao construtivismo e a pesquisas importantes voltadas ao
mecanismo cognitivos relacionados a leitura e a escrita. Atualmente mora na
Cidade do México, onde é professora titular do Centro de Investigação e Estudos
Avançados do Instituto Politécnico Nacional.
Muryel
Lima de Oliveira, aluna do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul.
Disciplina:
Produção Textual em Educação.
Referências:
FERREIRO,
Emilia. O passado e presente dos verbos ler e escrever. Trad. Claudia Berline.
2. Ed. São Paulo: Cortez, 2005.
CHICO
Xavier. Direção: Daniel Filho. Produção: Columbia/Sony Pictures, Downtown
Filmes. Co-Produção: Globo Filmes e Estação da Luz. Brasil, 2012. 125 minutos,
Som Direto: Carlos Alberto Lopes. Desenho de Som: Simone Petrillo.
Observação: Trabalho de aula, que humildemente posto aqui, em breve postarei como fazer uma resenha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe um comentário aqui!
Comentário sujeito a moderação.
Se tiver blog, deixa o link pra eu visitar!
Marca o quadradinho "Notifique-me" que você fica sabendo quando eu respondi e facilita a interação!