Mulheres são, quase sempre denominadas como porto seguro da relação, cujo outro pode voltar e encontrar abrigo. Mulheres nunca são os navios, são sempre o farol, estático. Mulheres são o ponto de fuga, e são de onde os outros zarpam para suas vidas agitadas e jamais voltam. São trampolins que alçam os outros para o alto.
Será que um dia seria o meu porto seguro? Será possível ser meu ponto de fuga e de partida? Será que tudo é loucura da minha cabeça e estou perdendo a sanidade ou é só o pessimismo pré-menstrual?
Me sinto cheia de tralhas que não são minhas, de miasmas que ficaram das relações e à medida que me solto e me liberto, liberto os fantasmas presos em relicários bonitos. Para ser leve é necessário soltar, mas ser leve não é esquecer, ser leve depende de lembrar.
E, enquanto meus dedos finos se agarram às amarras que eu mesma me impus, eu choro com medo de ser apenas ponto de partida e não de chegada, morada. Meu corpo, minha casa. Casa que abrigou vidas e hoje se encontra desocupado. Não desejo mais visitantes, mas tem um que me chega tão gostoso e carinhoso, que o dengo me ganha.
Mas, e o medo de ser deixada, onde ele fica? No roll de entrada, de frente para a porta, como alerta, apesar de, às vezes, ser completamente ignorado, tanto por mim, quanto pelos outros. E as rachaduras que eu tentei cobrir, e seguem aparecendo por baixo da massa sólida? Sou mesmo assim uma alma nobre e cheia de vida, que merece o amor e tudo que vem dele ou apenas o resto? E o que eu faço com a minha velha mania de me sabotar, de mandar embora quem deseja ficar e pedir que fiquem os que desejam apenas passar?
E, se eu não deixar saudade ao ponto de receber uma batina repentina na porta? E se eu for só mais uma página na tua história? E, nesses “e ses” eu me perder e não souber voltar?