Cresci calando os meus sentimentos, perdendo a voz. Cresci com medo da rejeição ao ponto de não conseguir verbalizar tais medos para quem eu amava. Quem me causava essas certas inseguranças. Penso que cresci para agradar aos outros e não à mim.
Hoje, com quase trinta anos, finalmente percebi o quão importante é validar tudo que eu sinto, penso e preciso expor, sem o medo de ser mal vista, de ser chamada de mal educada, de desnecessária, de agressiva etc. Hoje consigo ver os estragos que uma sociedade machista faz, mesmo que sutilmente, às mulheres. Quando as próprias mulheres fomentam esse estereótipo de “classe” e “elegância”, enquanto o outro está nem aí para o que sentimos.
Quando somos traídos nos sentimos expostos, nos sentimos vulneráveis, pequenos e inúmeros outros atributos. Sair desse lugar é como tentar escapar de um lodo, de uma areia movediça. Difícil, mas não impossível. E, me sinto nesse processo de ascensão, que é quase divino e muito importante para a minha auto imagem.
Posso dizer, com toda certeza, que me fiz pequena para caber em um molde. Tirei minha pele de foca, como diria Clarissa Pinkola Estés, e deixei que um homem comum me aprisionasse. Me sinto, resgatando minha pele e voltando ao meu lar, meu mar e a minha imensidão.
Retornando à mulher selvagem que sempre habitou em mim, mas que foi podada, encurralada e domesticada. Não aceitarei mais cabrestos, não aceitarei ser marcada à ferro. Não me sujeitarei permanecer onde sequer o mínimo é feito. Onde minha voz não é ouvida e minhas palavras não são lidas. Onde eu não posso ser quem sou, onde minha alma não encontra acalento. Onde eu precise me calar para ser aceita.
Prefiro, de qualquer forma, ser uma párea do que bem vista. Prefiro ser chamada de rude ou agressiva, do que de boa moça. Recato nunca foi um adjetivo que coubesse em mim, pelo contrário, eu sempre fui chamada de rebelde. Sempre honrei minha linhagem de mulheres fortes, mas como elas, eu calei. E, para mim, nesse momento, a maior das honrarias é não repetir o erro delas, é fazer valer cada célula do meu corpo que grita por liberdade. É dar voz ao BASTA que elas mesmas não puderam gritar.
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