A mulher que eu era X A mulher que eu sou hoje


Alerta de sinceridade! 
Me peguei pensando na vida essa semana (que por sinal passou muito rápido), e percebi que quem eu sou hoje não estava nos meus planos floriados. Eu queria terminar a faculdade, talvez fazer outra ou um mestrado, ter minha própria casa (sozinha) e depois com o tempo, ter filhos. Mas, a maternidade me pegou no meio do caminho, trazendo todos os meus preconceitos a tona: eu não havia terminado a faculdade, ainda morava com meus pais, recém havia começado meu relacionamento com meu "marido" e pai do meu filho, havia trancado a faculdade em uma daquelas crises dos vinte e poucos anos em que tu não sabe ao certo se é aquilo mesmo que quer pra vida etc etc. 

Percebi que eu refletia diversos padrões mentais patriarcais e obsoletos que, de fato, não eram meus e sim da minha família. Um deles, e talvez o mais forte, era o que criança atrapalha os estudos e a vida profissional de uma mulher. E como eu segui na faculdade grávida (mais ou menos até as 32 semanas, quando eu consegui um atestado para terminar o semestre em casa) foi bem intenso lidar com meu próprio preconceito perambulando redondamente grávida pelo campus. Sentia que não me encaixava ali, via olhares onde não existiam e as vezes tinha diálogos internos incriveis sobre o que cada rosto estaria pensando. 

Voltei de licença maternidade quando o Ákilah tinha quatro meses, me sentia crua demais para aquilo e ainda deslocada. É realmente difícil estudar com uma criança pequena que demanda tanto de ti, mas tendo uma rede de apoio, não é impossível. Quando ele estava para completar 7 meses eu voltei a trabalhar e novamente contei com a rede de apoio, ainda tem coisas que precisam ser arrumadas e aprimoradas, mas tudo tem jeito. 

A questão é: (voltando ao foco do texto) eu acreditava que a vida tinha que acontecer em etapas e quando eu pudesse, mas vejo que ela acontece como deve acontecer, porque vidas reais são assim. Essa história contada em filmes raramente acontece e se ilude quem acredita. Obviamente que filhos podem ser planejados, mas nem sempre isso acontece. E aquela sua ex colega que teve que trancar o ensino médio porque engravidou, que tu achava que "não tinha se cuidado" foi mais uma mulher que caiu nas redes cruéis do patriarcado e da sociedade brutal que atinge as mulheres ainda hoje. 

Não somos ninguém para julgar os outros, o que fazem ou deixam de fazer. Quando e como decidiram (e se decidiram) ter um filho. Filho não atrapalha, só deixa a fase do jogo que é a vida mais difícil (e recompensante). E quem não quer ter filho e focar na carreira, tá certo também! Ah, não leva jeito e gosta do seu conforto? (porque ter filhos é sair do umbiguinho e viver por muito tempo com pouco) ótimo também! Eu vejo muita gente infeliz, principalmente as mulheres, porque acabam na obrigação de ter e fazer coisas que não querem ou não se sentem prontas. Isso só gera um caos ainda maior, como abandono, crianças crescendo sozinhas ou com uma mãe extremamente extressada (por estar num papel que não queria estar, mas foi conduzida ou forçada etc).

Eu acredito fortemente que quanto mais tu te debate sobre um certo assunto mais esse assunto "bate" a sua porta. Eu tinha esses preconceitos sobre estudos, trabalhos e maternidade e ele caiu como uma bomba no meu colo e no da minha família (que ainda não engole muito bem porque 'não foi o que planejamos para ti' como se a minha vida fosse deles).

Família, família uma grande questão! 
Enfim, fica essa reflexão do lugar da mulher e da mulher mãe, para todas as mulheres, mães ou não, que queiram ou não queiram ter filhos.

4 comentários:

  1. Adorei ler! Ótima reflexão... Lindo de ver esta transformação em ti. Orgulho define. Com certeza tu é uma ótima mãe, independente das tuas escolhas pessoais e profissionais, não deixe que outras pessoas te façam duvidar disto ��

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    1. Gracias Ju! Muito bom ler isso de ti! Viva as mães maravilhosas!

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  2. eu acho muito louco esse combo de expectativas que os pais colocam nos filhos. 'ah porque o certo é x e não z, porque eu quero o melhor pra você etc'. se tem mais de uma filho então, meudeus. é como se os filhos tivessem a obrigação fantasiada de gratidão de seguir o mesmo caminho.

    na minha família eu fui a que mais me aproximei nas expectativas, mas também só quando achei que me sentia confortável com isso. já a minha irmã fugiu totalmente da curva, e tudo bem. só que nesse feeling de 'façam concurso, estudem, etc etc etc' sempre recaia nela o 'ah porque a sua irmã mais velha isso, aquilo e blablabla'. meudeus a raiva que isso me dá!

    foi necessário muuuuuuuita conversa pra entenderem que cada um tem o seu certo, o seu jeito de se alinhar na própria vida, nas próprias escolhas. eu me "encaixei" porque fez sentido pra mim, só por isso. e mesmo assim isso não faz da vida perfeita, exemplo a ser seguido, enfim, todo aquele clichê de conselhos que a gente em algum momento da vida acaba escutando.

    mesmo pra quem acaba virando propaganda de margarina, a vida não tem manual não. a gente vai vivendo e se redescobrindo. tem coisa que faz sentido e tem coisa que simplesmente não faz. e tudo bem.

    enfim, família né? HAHA me empolguei aqui, pra variar :)

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    1. Hahahaha capaz, é isso mesmo!
      Siim, as vezes eu me pego com isso, mas hoje estou mais em 'paz' com as minhas escolhas. Mas, ah não é fácil sustentar aquilo que se é e o que se acredita!

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