O medo na gestação

É muito comum termos medos. O medo é instinto de vida. Na natureza aprendemos a ter medo para sobrevivermos, porém no momento que não estamos mais na natureza e sim em um ambiente acolhedor, esse medo vem de outras formas. Vou exemplificar com um trecho do artigo “Por que choram os bebês”, de Winnicott: 

A base do choro de medo é a dor, e é por isso que o pranto soa da mesma maneira em ambos os casos, mas agora é uma dor recordada e que ele já espera ver repetida. Depois de um bebê ter conhecido qualquer sensação dolorosamente aguda, poderá chorar de medo quando acontece qualquer outra que o ameace de voltar a ter essa mesma sensação. E logo começa a ter ideias, algumas assustadoras, e então volta a chorar porque alguma coisa recordou ao bebê a dor, embora essa alguma coisa seja agora imaginária. (Winnicott, 1945 p. 68)

Ou seja, o medo é o nosso mecanismo de defesa, como no filme ‘click’ que o controle quebra e acaba pulando automaticamente para outra parte, nosso cérebro com o passar do tempo também faz isso. Paramos de racionalizar o medo, as vezes até desconhecemos ele. Por isso é importante observarmos o medo na gestação. E eu vou sempre ressaltar a criança interior: ela precisa ser vista e ouvida. 

Ela precisa ser acolhida pelo adulto que se tornou. Precisamos explicar para ela que aquele medo não tem fundamento, que aquele bicho é minúsculo e não é ‘papão’. Esse medo que não entendemos de onde vem só nos limita a ter novas experiências. 

Temos também, durante a gestação o medo do desconhecido, do que ainda está por vir: porque a nossa mente ainda infantil só entende o que ela consegue planejar e compreender por já ter vivido. O que é novo e diferente é refutado por ela. Digo mente infantil pois entendo que só estamos maduros emocionalmente por volta dos 28 anos e penso estar escrevendo para mães de ‘primeira viagem’, ainda jovens. 

Não me leve a mal, isso não é uma ofensa, mas só saberemos como é ser velho quando formos, e isso serve para a gestação. Só se sabe como é estar grávida quando se está. 

E cada gestação será repleta de medos diferentes, por isso falo aqui dos medos comuns ou rotineiros. Que são os medos baseados na insegurança do que ainda está por vir, pois uma mãe que tem casa estruturada, uma relação firme, que é emocionalmente apoiada, que tem rede de apoio, que é saudável, que planejou a gestação, que trabalha ou está assegurada financeiramente não terá medos como: meu filho terá um teto sobre ele? e meu marido irá ficar comigo mesmo redonda ou no pós parto quando eu não quiser transar e estiver cansada e pouco atraente? como vamos nos manter, as contas, as fraldas e a alimentação? 

Essas mães terão outros medos e receios sobre a gestação, talvez não tenham nenhum até certo ponto gestacional. E as duas formas são ‘ok’. Estou aqui exemplificando que é absolutamente normal termos medo na gestação por estarmos vivendo novas experiências e por termos muita demanda mental em relação a isso. 

E o importante, volto a dizer, é conversarmos sobre os medos com a nossa criança interior e também com o nosso bebê. O nosso bebê sente toda a química corporal que produzimos: medo, angústia, ansiedade, tristeza, alegria, prazer etc. 

Todas essas emoções são combinações químicas do nosso corpo que o bebê recebe dentro do útero. Temos também o campo emocional da mãe, que a criança está desde a concepção até o terceiro ano de vida aproximadamente. Ou seja, o bebê sabe o que estamos sentindo, só não sabe explicar e essa é a nossa parte do trabalho: explicar ao nosso bebê o que estamos sentindo e passando. Isso tranquiliza e traz segurança ao bebê desde o útero. 

E uma coisa muito importante sobre o medo é o questionamento que deve vir logo depois: De onde vem esse meu medo? Porque estou com medo? 

E mais, quando uma criança está com medo e fala para um adulto, o que ele fez? Não pega ela pela mão e diz: vamos lá olhar embaixo da cama e ver se tem mesmo algo? É isso que precisaremos fazer com a nossa criança durante a gestação e também no puerpério. 

Muitos sentimentos virão e é importante ter paciência e amorosidade consigo mesmo. Ter alguém com escuta ativa, que possa te acolher nesse momento e te tranquilizar, te questionar se for o caso e te lembrar de que tu é capaz sim


2 comentários:

  1. Eu morro de medo da gestação, morria de medo todas as vezes em que a menstruação atrasava abrindo possibilidade pra uma gravidez.
    Sei que esse medo não termina depois que o bebê nasce, as preocupações só aumentam. Vejo você lutando pra continuar com sua vida pessoal, tentando manter seus hobbies e o blog, isso é incrível. E vejo seu filho crescendo e lindinho com roupinhas fofas <3 ele será uma criança maravilhosa

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    1. Eu tinha muito medo de engravidar também, principalmente por acreditar que nenhum cara iria ser um bom pai (o que é curioso porque a pessoa serve para namorar/transar mas não para ser pai).Mas, acabou que aqui deu tudo certo e quem acompanhou de perto minha relação com o Lucas pode ver nossa evolução como casal! E sim, o Ákilah está muito massa, muito legal e divertido! Tem sido muito bom ver ele crescer!

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