No ônibus, esta manhã me dei
conta de uma questão que inunda a minha alma, se eu morrer amanhã, como
será?
Provavelmente
eu vá para uma cidade espiritual, ou talvez para o umbral, talvez não aconteça
nada, morri e ponto, acabou-se, o nada, o vazio, ou a eternidade nos campos elísios. Mas, e minha família e amigos? Os colegas da faculdade, o pessoal do
Facebook e do blog, alguém sentirá a minha falta além dos amigos mais próximos?!
Talvez
meu Facebook fique cheio de mensagens de saudade, de lágrimas escritas. Minha
mãe recolherá as minhas roupas do varal e passará a mão levemente sobre aquela
blusa branca que eu tanto gostava. Meu pai olhará meus livros, os nossos
livros, alguns ainda inacabados e com o marca-páginas perdido entre o capítulo
onze e o doze e em silêncio devotaria as mais sinceras lágrimas para as
palavras não lidas e para mim.
Minha
irmã, por outro lado, melhoraria na escola pensando que eu gostaria disso,
passaria a ler meus velhos livros e provavelmente guardaria alguns pertences
meus, com ela. Meus avós fariam aquele drama básico de "como ela era uma
boa neta e nós nunca dissemos isso a ela", minha madrinha se sentiria
vazia e não brigaria com ninguém durante umas semanas. Minha tia pensaria
"ela poderia ter se formado no próximo ano", meu namorado
provavelmente se revoltaria e passaria a odiar o deus que eu tanto amo, mas
dentro de um ano ou dois ele voltaria ao site de relacionamentos que nos
conhecemos para consolar seu coração.
Meus
animais ficariam deitados no tapete do meu quarto e suspirariam vez ou outra,
meu gato miaria do seu jeito manhoso, me chamando e minha cadela me esperaria
todos os dias, na janela, pensando "quem sabe hoje ela volta". Meus
amigos, os verdadeiros, se lembrariam de como eu detesto homenagens e não
falariam nada, ou talvez um ou outro escreveriam um texto gigante contando como
nos conhecemos inusitadamente e como eu chamava a atenção movimentando as mãos
no ar loucamente.
Só sei
que nada disso me traria de volta, meus livros continuariam acumulando pó ou
provavelmente seriam vendidos para algum sebo e minhas roupas mais
extravagantes a algum brechó, minhas paixões, assim eu seguiria viva em alguém,
mesmo que distante. Se eu
tenho algum pedido? Joguem as minhas cinzas ao vento, eu sempre gostei de como
meus cabelos balançavam quando sentava num daqueles bancos altos no ônibus,
como hoje, que uma mecha insiste em entrar no meu olho esquerdo fazendo eu me
arrepender, mesmo que brevemente, de ter deixado o cabelo crescer novamente.
E a vida
é isso, num sopro, ela se apaga, como a chama de uma vela.
Gostando dos seus textos.... Parabéns!
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